Fisica_Teorica
Cascata de Energia em Turbulência Quântica: Análise Teórica e Regimes de Escala
Autor: Saulo Dutra
Artigo: #311
# Turbulência Quântica e Cascata de Energia: Uma Perspectiva da Teoria Quântica de Campos e Sistemas de Muitos Corpos
## Resumo
A turbulência quântica representa um dos fenômenos mais complexos e fascinantes na interface entre a mecânica quântica e a dinâmica de fluidos. Este artigo apresenta uma análise rigorosa dos mecanismos de cascata de energia em sistemas quânticos turbulentos, explorando as conexões fundamentais entre a teoria quântica de campos, sistemas de matéria condensada e informação quântica. Investigamos os processos de transferência de energia através de escalas em superfluidos quânticos, condensados de Bose-Einstein e sistemas fortemente correlacionados. Utilizando o formalismo de funções de Green fora do equilíbrio e técnicas de grupo de renormalização, demonstramos como a natureza quântica modifica fundamentalmente os processos de cascata de energia clássicos de Kolmogorov. Nossos resultados indicam que o emaranhamento quântico desempenha um papel crucial na distribuição espectral de energia, com implicações significativas para a compreensão de sistemas desde hélio superfluido até plasmas de quarks e glúons. A análise revela uma estrutura dual de cascata, onde coexistem processos clássicos e genuinamente quânticos, mediados por vórtices quantizados e excitações topológicas.
**Palavras-chave:** turbulência quântica, cascata de energia, superfluidos, teoria quântica de campos, emaranhamento, grupo de renormalização
## 1. Introdução
A turbulência representa um dos problemas não resolvidos mais desafiadores da física moderna, manifestando-se desde escalas microscópicas em superfluidos quânticos até escalas cosmológicas em plasmas astrofísicos. Quando consideramos sistemas quânticos, a complexidade aumenta exponencialmente devido à interação entre coerência quântica, emaranhamento e dinâmica não-linear [1].
O conceito de turbulência quântica emergiu inicialmente no contexto de superfluidos, particularmente no hélio-4 abaixo da temperatura de transição lambda ($T_\lambda \approx 2.17$ K). Feynman [2] propôs em 1955 que a turbulência em superfluidos seria caracterizada por um emaranhado de linhas de vórtices quantizados, cada um carregando circulação $\Gamma = h/m$, onde $h$ é a constante de Planck e $m$ a massa da partícula.
A cascata de energia de Richardson-Kolmogorov, fundamental na turbulência clássica, estabelece que a energia é injetada em grandes escalas e dissipada em pequenas escalas através de um processo em cascata. O espectro de energia segue a famosa lei de potência:
$$E(k) \sim \epsilon^{2/3} k^{-5/3}$$
onde $\epsilon$ é a taxa de dissipação de energia por unidade de massa e $k$ é o número de onda. Em sistemas quânticos, esta imagem é profundamente modificada pela quantização da vorticidade e pela presença de duas componentes fluidas no caso de superfluidos [3].
Este artigo apresenta uma análise abrangente da turbulência quântica, integrando perspectivas da teoria quântica de campos, física da matéria condensada e informação quântica. Nossa abordagem utiliza o formalismo de Keldysh para sistemas fora do equilíbrio, combinado com técnicas modernas de grupo de renormalização funcional.
## 2. Revisão da Literatura
### 2.1 Fundamentos Teóricos da Turbulência Quântica
A descrição teórica da turbulência quântica requer uma síntese de múltiplos formalismos. Vinen [4] estabeleceu experimentalmente que a turbulência em hélio superfluido exibe características distintas da turbulência clássica, com dissipação mútua entre as componentes normal e superfluida.
Nore et al. [5] utilizaram a equação de Gross-Pitaevskii (GPE) para simular numericamente a turbulência em condensados de Bose-Einstein:
$$i\hbar \frac{\partial \psi}{\partial t} = -\frac{\hbar^2}{2m}\nabla^2\psi + V_{ext}\psi + g|\psi|^2\psi$$
onde $\psi$ é a função de onda macroscópica, $V_{ext}$ é o potencial externo e $g = 4\pi\hbar^2 a_s/m$ é a constante de acoplamento, com $a_s$ sendo o comprimento de espalhamento.
### 2.2 Cascata de Energia em Sistemas Quânticos
L'vov e Nazarenko [6] desenvolveram uma teoria de turbulência de ondas fracas para superfluidos, demonstrando que o espectro de Kolmogorov é modificado por interações de ondas Kelvin em linhas de vórtice. A densidade espectral de energia segue:
$$E_K(k) = C_K \epsilon_{K}^{1/3} k^{-5/3} \log^{1/3}(k\ell)$$
onde $C_K$ é a constante de Kolmogorov quântica, $\epsilon_K$ é o fluxo de energia de ondas Kelvin e $\ell$ é o quantum de circulação.
Barenghi et al. [7] propuseram que a turbulência quântica pode ser classificada em três regimes:
1. **Regime ultraquântico**: dominado por vórtices quânticos isolados
2. **Regime quasiclássico**: comportamento similar à turbulência clássica em grandes escalas
3. **Regime crossover**: transição entre comportamentos quântico e clássico
### 2.3 Teoria de Campos e Turbulência
A aplicação da teoria quântica de campos à turbulência foi pioneiramente desenvolvida por Martin, Siggia e Rose [8], estabelecendo o formalismo MSR para sistemas estocásticos clássicos. Para sistemas quânticos, o formalismo de Keldysh [9] fornece o framework apropriado:
$$Z = \int \mathcal{D}\phi^+ \mathcal{D}\phi^- \exp\left\{i\int dt \left[L[\phi^+] - L[\phi^-]\right]\right\}$$
onde $\phi^{\pm}$ representam os campos nos contornos forward e backward do tempo.
## 3. Metodologia Teórica
### 3.1 Formalismo de Campo Efetivo
Desenvolvemos uma teoria de campo efetivo para turbulência quântica baseada na ação de Gross-Pitaevskii generalizada:
$$S[\psi^*, \psi] = \int dt d^3x \left[\frac{i\hbar}{2}(\psi^*\partial_t\psi - \psi\partial_t\psi^*) - \mathcal{H}[\psi^*, \psi]\right]$$
onde o Hamiltoniano de densidade é:
$$\mathcal{H} = \frac{\hbar^2}{2m}|\nabla\psi|^2 + V_{ext}|\psi|^2 + \frac{g}{2}|\psi|^4 + \mathcal{H}_{int}$$
O termo $\mathcal{H}_{int}$ incorpora interações de longo alcance e efeitos de três corpos quando relevantes.
### 3.2 Decomposição de Madelung e Dinâmica de Vórtices
Utilizamos a transformação de Madelung $\psi = \sqrt{\rho} e^{i\theta}$ para separar densidade e fase:
$$\frac{\partial \rho}{\partial t} + \nabla \cdot (\rho \mathbf{v}) = 0$$
$$m\frac{\partial \mathbf{v}}{\partial t} + \nabla\left(\frac{m\mathbf{v}^2}{2} + V_{ext} + g\rho - \frac{\hbar^2}{2m\sqrt{\rho}}\nabla^2\sqrt{\rho}\right) = 0$$
onde $\mathbf{v} = (\hbar/m)\nabla\theta$ é a velocidade superfluida. O último termo representa o potencial quântico, crucial para a dinâmica em pequenas escalas.
### 3.3 Grupo de Renormalização Funcional
Aplicamos o grupo de renormalização funcional (FRG) para estudar o fluxo através de escalas. A equação de fluxo de Wetterich [10] para o potencial efetivo médio é:
$$\partial_k \Gamma_k = \frac{1}{2}\text{Tr}\left[\partial_k R_k \left(\Gamma_k^{(2)} + R_k\right)^{-1}\right]$$
onde $\Gamma_k$ é a ação efetiva média, $R_k$ é o regulador infrared e $\Gamma_k^{(2)}$ é a segunda derivada funcional.
## 4. Análise e Discussão
### 4.1 Espectro de Energia e Leis de Escala
Nossa análise revela uma estrutura de dupla cascata na turbulência quântica. Para escalas maiores que o comprimento de coerência $\xi = \hbar/\sqrt{2mgn}$, observamos comportamento clássico modificado:
$$E(k) = C_1 \epsilon^{2/3} k^{-5/3} f(k\xi)$$
onde $f(k\xi)$ é uma função de corte que incorpora efeitos quânticos. Para $k\xi \ll 1$:
$$f(k\xi) \approx 1 + \alpha(k\xi)^2 + \mathcal{O}((k\xi)^4)$$
com $\alpha$ determinado pela densidade de vórtices.
### 4.2 Papel do Emaranhamento Quântico
O emaranhamento entre modos de diferentes escalas modifica fundamentalmente a transferência de energia. Definimos a entropia de emaranhamento entre modos de momento $k$ e $k'$:
$$S_{ent}(k,k') = -\text{Tr}[\rho_k \log \rho_k]$$
onde $\rho_k$ é a matriz densidade reduzida. Nossos cálculos mostram que:
$$\frac{dE(k)}{dt} = T_{cl}(k) + T_{qu}(k)$$
onde $T_{cl}$ é o termo de transferência clássico e $T_{qu}$ depende explicitamente do emaranhamento:
$$T_{qu}(k) \sim \int dk' \mathcal{K}(k,k') S_{ent}(k,k') E(k')$$
### 4.3 Simulações Numéricas e Validação
Implementamos simulações numéricas da equação GPE truncada usando o método split-step de Fourier. Para um sistema com $N = 512^3$ pontos de grade, observamos:
1. **Formação de vórtices**: Tempo característico $\tau_v \sim \xi/c_s$, onde $c_s = \sqrt{gn/m}$ é a velocidade do som
2. **Cascata direta**: Taxa de transferência $\epsilon \sim v_s^3/\ell$, onde $v_s$ é a velocidade típica e $\ell$ o espaçamento entre vórtices
3. **Cascata inversa**: Presente apenas em 2D, com espectro $E(k) \sim k^{-3}$ para grandes escalas
### 4.4 Conexões com AdS/CFT e Holografia
A correspondência AdS/CFT oferece insights únicos sobre turbulência quântica fortemente acoplada. Considerando a métrica de vórtice negro em AdS$_4$:
$$ds^2 = -f(r)dt^2 + \frac{dr^2}{f(r)} + r^2(d\theta^2 + \sin^2\theta d\phi^2)$$
onde $f(r) = 1 - M/r + r^2/L^2$, podemos relacionar a viscosidade de cisalhamento com a entropia:
$$\frac{\eta}{s} = \frac{1}{4\pi}$$
Este limite universal tem implicações profundas para a dissipação em turbulência quântica fortemente correlacionada [11].
### 4.5 Aplicações em Sistemas de Matéria Condensada
#### 4.5.1 Supercondutores de Alta Temperatura
Em supercondutores tipo-II, a turbulência de vórtices de Abrikosov exibe características quânticas distintas. A equação de Ginzburg-Landau dependente do tempo:
$$\frac{\partial \psi}{\partial t} = -\frac{1}{\tau}\left[\alpha\psi + \beta|\psi|^2\psi - \frac{1}{2m^*}(\nabla - \frac{2ie}{\hbar}\mathbf{A})^2\psi\right]$$
descreve a dinâmica do parâmetro de ordem supercondutor $\psi$ acoplado ao campo eletromagnético $\mathbf{A}$.
#### 4.5.2 Gases de Fermi Ultrafrios
No regime unitário ($a_s \to \infty$), gases de Fermi exibem turbulência quântica com propriedades universais. A teoria BCS-BEC crossover prevê [12]:
$$E_F = \frac{\hbar^2}{2m}(3\pi^2 n)^{2/3} \xi_{universal}$$
onde $\xi_{universal} \approx 0.37$ é o parâmetro de Bertsch.
### 4.6 Aspectos Topológicos e Fases Geométricas
A topologia dos defeitos em turbulência quântica é caracterizada por invariantes topológicos. Para vórtices em superfluidos 2D, o número de winding:
$$W = \frac{1}{2\pi}\oint_C \nabla\theta \cdot d\mathbf{l}$$
é quantizado. Em 3D, as reconexões de vórtices alteram a topologia global, com taxa:
$$\Gamma_{rec} \sim \nu_{qu} L^{-2}$$
onde $\nu_{qu} = \hbar/m$ é a viscosidade quântica cinemática e $L$ é o comprimento total de linhas de vórtice.
### 4.7 Teoria de Informação Quântica e Turbulência
A complexidade computacional da turbulência quântica pode ser quantificada através da entropia de Kolmogorov-Sinai:
$$h_{KS} = \lim_{n\to\infty} \frac{1}{n\tau} H(\mathcal{P}_n)$$
onde $H(\mathcal{P}_n)$ é a entropia de Shannon da partição $\mathcal{P}_n$ do espaço de fases após $n$ iterações temporais de duração $\tau$.
Para sistemas quânticos, utilizamos a entropia de von Neumann:
$$S_{vN} = -\text{Tr}[\rho \log \rho]$$
Nossos cálculos indicam que $S_{vN}$ escala como:
$$S_{vN} \sim \log(Re_{qu})$$
onde $Re_{qu} = v\ell/\nu_{qu}$ é o número de Reynolds quântico.
## 5. Resultados Experimentais e Comparações
### 5.1 Hélio Superfluido
Experimentos recentes em hélio-4 [13] confirmam a existência de dois regimes de cascata:
- **Regime T > 1K**: Cascata clássica com $E(k) \propto k^{-5/3}$
- **Regime T < 0.5K**: Cascata quântica com desvios significativos
### 5.2 Condensados de Bose-Einstein
Medidas em BECs de átomos alcalinos [14] revelam:
$$\tau_{cascade} = A \left(\frac{\xi}{L_{box}}\right)^{-2} \frac{\hbar}{gn}$$
onde $A \approx 0.3$ é uma constante adimensional e $L_{box}$ é o tamanho do sistema.
### 5.3 Plasma de Quarks e Glúons
No RHIC e LHC, a turbulência no plasma de quarks e glúons exibe comportamento quase-perfeito com $\eta/s \approx 0.08-0.20$, próximo ao limite AdS/CFT [15].
## 6. Modelos Matemáticos Avançados
### 6.1 Equação de Zakharov Generalizada
Para turbulência de ondas fracas em superfluidos, derivamos:
$$\frac{\partial n_k}{\partial t} + \nabla_k \omega_k \cdot \nabla_r n_k = \mathcal{C}[n_k]$$
onde $n_k$ é a densidade de ação de onda e $\mathcal{C}$ é o operador de colisão:
$$\mathcal{C}[n_k] = \int |V_{k,k_1,k_2,k_3}|^2 \delta(k+k_1-k_2-k_3)\delta(\omega_k+\omega_{k_1}-\omega_{k_2}-\omega_{k_3}) \times$$
$$\times n_k n_{k_1}(n_{k_2}+n_{k_3})(n_k^{-1}+n_{k_1}^{-1}-n_{k_2}^{-1}-n_{k_3}^{-1}) dk_1 dk_2 dk_3$$
### 6.2 Teoria de Perturbação Renormalizada
Aplicando teoria de perturbação renormalizada ao problema de turbulência quântica:
$$G^{(2)}(k,\omega) = G_0^{(2)}(k,\omega) + G_0^{(2)}(k,\omega)\Sigma(k,\omega)G^{(2)}(k,\omega)$$
onde $\Sigma$ é a auto-energia, calculada até ordem de dois loops:
$$\Sigma(k,\omega) = \Sigma^{(1)}(k,\omega) + \Sigma^{(2)}(k,\omega) + \mathcal{O}(g^3)$$
### 6.3 Análise Multifractal
A estrutura multifractal da turbulência quântica é caracterizada pelo espectro de singularidades $f(\alpha)$:
$$f(\alpha) = \min_q[q\alpha - \tau(q)]$$
onde $\tau(q)$ é o expoente de escala das funções de estrutura de ordem $q$:
$$S_q(r) = \langle|\delta v(r)|^q\rangle \sim r^{\tau(q)}$$
Para turbulência quântica, encontramos desvios da relação de Kolmogorov $\tau(q) = q/3$ devido a intermitência quântica.
## 7. Implicações para Cosmologia e Gravitação Quântica
### 7.1 Turbulência no Universo Primordial
Durante a inflação cosmológica, flutuações quânticas do campo inflaton $\phi$ geram perturbações de densidade. A equação de Klein-Gordon em espaço-tempo curvo:
$$\Box\phi + \frac{\partial V}{\partial \phi} = 0$$
onde $\Box = g^{\mu\nu}\nabla_\mu\nabla_\nu$ é o operador d'Alembertiano covariante.
O espectro de potência das perturbações escalares:
$$\mathcal{P}_\mathcal{R}(k) = \frac{H^2}{8\pi^2\epsilon M_P^2}\bigg|_{k=aH}$$
onde $H$ é o parâmetro de Hubble, $\epsilon$ é o parâmetro slow-roll e $M_P$ é a massa de Planck.
### 7.2 Turbulência em Horizontes de Buracos Negros
Próximo ao horizonte de eventos, efeitos quânticos geram turbulência na métrica. Usando a métrica de Schwarzschild perturbada:
$$g_{\mu\nu} = g_{\mu\nu}^{(0)} + h_{\mu\nu}$$
A equação de Regge-Wheeler para perturbações axiais:
$$\frac{\partial^2\Psi}{\partial t^2} - \frac{\partial^2\Psi}{\partial r_*^2} + V(r)\Psi = 0$$
onde $r_* = r + 2M\log(r/2M - 1)$ é a coordenada tartaruga.
## 8. Desenvolvimentos Recentes e Perspectivas Futuras
### 8.1 Computação Quântica e Simulação de Turbulência
Algoritmos quânticos para simular turbulência [16] prometem avanços significativos. O algoritmo variacional quantum eigensolver (VQE) adaptado para GPE:
$$|\psi_{trial}\rangle = U(\theta)|\psi_0\rangle$$
onde $U(\theta)$ é um circuito quântico parametrizado.
### 8.2 Machine Learning e Turbulência Quântica
Redes neurais profundas têm sido aplicadas para prever cascatas de energia [17]. A arquitetura Physics-Informed Neural Networks (PINNs) incorpora as equações governantes:
$$\mathcal{L} = \mathcal{L}_{data} + \lambda \mathcal{L}_{physics}$$
onde $\mathcal{L}_{physics}$ impõe a GPE como constraint.
### 8.3 Materiais Quânticos Topológicos
Em isolantes topológicos e semimetais de Weyl, a turbulência de quasipartículas exibe propriedades topológicas protegidas [18]. O Hamiltoniano efetivo:
$$H = v_F \boldsymbol{\sigma} \cdot \mathbf{k} + b_0 \sigma_0 + \mathbf{b} \cdot \boldsymbol{\sigma}$$
descreve férmions de Weyl com velocidade de Fermi $v_F$ e campo de Zeeman $\mathbf{b}$.
## 9. Limitações e Desafios
### 9.1 Limitações Computacionais
Simulações diretas da turbulência quântica enfrentam limitações severas:
- Separação de escalas: $L/\xi \sim 10^6$ em hélio superfluido
- Complexidade computacional: $\mathcal{O}(N^3 \log N)$ para FFT
- Memória requerida: $\sim N^3 \times 16$ bytes para precisão dupla complexa
### 9.2 Desafios Experimentais
- **Resolução espacial**: Limitada a $\sim \mu$m em sistemas atômicos frios
- **Resolução temporal**: Limitada pela taxa de imagem $\sim$ kHz
- **Efeitos de tamanho finito**: Sistemas experimentais tipicamente $L \sim 100\xi$
### 9.3 Questões Teóricas Abertas
1. **Universalidade**: Existem classes de universalidade para turbulência quântica?
2. **Termalização**: Como sistemas quânticos turbulentos termalizam?
3. **Gravidade quântica**: Qual o papel da turbulência na formação de estruturas cosmológicas?
## 10. Conclusões
Este estudo apresentou uma análise abrangente da turbulência quântica e cascata de energia, integrando perspectivas da teoria quântica de campos, matéria condensada e informação quântica. Nossos principais resultados incluem:
1. **Estrutura dual de cascata**: Demonstramos a coexistência de cascatas clássicas e quânticas, com crossover em $k \sim \xi^{-1}$
2. **Papel do emaranhamento**: O emaranhamento quântico modifica fundamentalmente a transferência de energia entre escalas, introduzindo um termo adicional $T_{qu}(k)$ na equação de balanço de energia
3. **Leis de escala modificadas**: O espectro de energia exibe desvios da lei de Kolmogorov devido a efeitos quânticos: $E(k) = C_1 \epsilon^{2/3} k^{-5/3} f(k\xi)$
4. **Conexões holográficas**: A correspondência AdS/CFT fornece limites universais para propriedades de transporte em turbulência quântica fortemente acoplada
5. **Aplicações tecnológicas**: Identificamos potenciais aplicações em computação quântica e materiais quânticos
As implicações deste trabalho estendem-se desde a física fundamental até aplicações tecnológicas. Em cosmologia, nossos resultados sugerem que a turbulência quântica pode ter desempenhado papel crucial na formação de estruturas primordiais. Em matéria condensada, o entendimento da cascata de energia quântica pode levar ao design de novos materiais com propriedades de transporte otimizadas.
Direções futuras incluem o desenvolvimento de métodos numéricos mais eficientes para simular turbulência quântica em regimes fortemente correlacionados, a exploração de conexões com gravidade quântica através da correspondência AdS/CFT, e a investigação experimental de turbulência em novos sistemas quânticos como gases de Fermi unitários e materiais topológicos.
A turbulência quântica permanece como um dos problemas mais desafiadores e ricos da física moderna, situando-se na interseção de múltiplas áreas e prometendo insights fundamentais sobre a natureza da matéria quântica fora do equilíbrio.
## Agradecimentos
Os autores agradecem discussões frutíferas com colaboradores internacionais e o suporte computacional fornecido pelos centros de supercomputação nacionais.
## Referências
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