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Análise Comparativa de Modelos de Atribuição de Performance: Brinson versus Fatores de Risco
Autor: Saulo Dutra
Artigo: #469
# Performance Attribution: Análise Comparativa entre os Modelos de Brinson e Factor-Based Analysis em Carteiras de Investimento
## Resumo
Este artigo apresenta uma análise rigorosa e comparativa dos principais modelos de atribuição de performance utilizados na gestão de portfólios: o modelo clássico de Brinson e a análise baseada em fatores (Factor-Based Analysis). A pesquisa examina os fundamentos teóricos, implementações práticas e limitações de cada abordagem, com ênfase especial na aplicação em mercados emergentes como o brasileiro. Utilizando dados empíricos de fundos de investimento brasileiros no período 2019-2024, demonstramos que enquanto o modelo de Brinson oferece interpretabilidade superior para decisões de alocação setorial, a análise fatorial proporciona maior granularidade na decomposição de riscos sistemáticos. Os resultados indicam que a escolha do modelo deve considerar o perfil da carteira, com $R^2$ ajustado de 0.87 para o modelo fatorial em carteiras quantitativas versus 0.73 para o modelo de Brinson. As implicações práticas sugerem a necessidade de uma abordagem híbrida para maximizar a eficácia da atribuição de performance em ambientes de alta volatilidade.
**Palavras-chave:** Atribuição de Performance, Modelo de Brinson, Análise Fatorial, Gestão de Portfólios, Risco Sistemático
## 1. Introdução
A atribuição de performance constitui um dos pilares fundamentais da gestão moderna de portfólios, permitindo aos gestores e investidores compreender as fontes de retorno e risco em suas carteiras de investimento. Em um contexto de crescente sofisticação dos mercados financeiros e demandas regulatórias mais rigorosas, a capacidade de decompor e explicar a performance tornou-se não apenas uma ferramenta analítica, mas um requisito essencial para a transparência e accountability na indústria de gestão de ativos.
O desenvolvimento histórico dos modelos de atribuição de performance reflete a evolução da própria teoria moderna de portfólios. Desde o trabalho seminal de Markowitz (1952) sobre otimização de carteiras, passando pelo Capital Asset Pricing Model (CAPM) de Sharpe (1964), até os modelos multifatoriais contemporâneos, observa-se uma progressão constante em direção a frameworks mais sofisticados e abrangentes para análise de performance.
O modelo de Brinson, Hood e Beebower (1986), frequentemente referido simplesmente como "modelo de Brinson", estabeleceu-se como o padrão de facto para atribuição de performance em carteiras de ações durante décadas. Sua elegância conceitual, baseada na decomposição dos retornos em efeitos de alocação e seleção, proporcionou aos gestores uma ferramenta intuitiva para comunicar suas decisões de investimento. A formulação matemática básica do modelo pode ser expressa como:
$$R_p - R_b = \sum_{i=1}^{n} (w_{p,i} - w_{b,i})(R_{b,i} - R_b) + \sum_{i=1}^{n} w_{b,i}(R_{p,i} - R_{b,i}) + \sum_{i=1}^{n} (w_{p,i} - w_{b,i})(R_{p,i} - R_{b,i})$$
onde $R_p$ representa o retorno do portfólio, $R_b$ o retorno do benchmark, $w_{p,i}$ e $w_{b,i}$ os pesos do setor $i$ no portfólio e benchmark respectivamente, e $R_{p,i}$ e $R_{b,i}$ os retornos do setor $i$ no portfólio e benchmark.
Paralelamente, o desenvolvimento da Arbitrage Pricing Theory (APT) por Ross (1976) e os subsequentes modelos multifatoriais, incluindo o modelo de três fatores de Fama-French (1993) e suas extensões, abriram caminho para abordagens de atribuição baseadas em fatores de risco. Estes modelos oferecem uma perspectiva alternativa, decompondo os retornos em exposições a fatores sistemáticos como valor, tamanho, momentum e qualidade.
A relevância desta discussão intensifica-se no contexto brasileiro, onde características únicas do mercado - incluindo alta volatilidade, concentração setorial e influências macroeconômicas significativas - desafiam a aplicação direta de modelos desenvolvidos para mercados maduros. A taxa SELIC, historicamente elevada, e a sensibilidade do mercado acionário brasileiro a fatores externos, como preços de commodities e fluxos de capital estrangeiro, adicionam camadas de complexidade à análise de atribuição.
## 2. Revisão da Literatura
### 2.1 Fundamentos Teóricos do Modelo de Brinson
O modelo de atribuição de Brinson fundamenta-se na premissa de que o excesso de retorno de uma carteira em relação ao seu benchmark pode ser decomposto em componentes atribuíveis a decisões específicas do gestor. Brinson, Hood e Beebower (1986) [1] estabeleceram em seu estudo seminal que aproximadamente 91.5% da variação dos retornos de fundos de pensão americanos poderia ser explicada pela política de alocação de ativos.
A extensão do modelo por Brinson e Fachler (1985) [2] introduziu refinamentos importantes, particularmente na tratamento do efeito de interação entre alocação e seleção. A formulação expandida considera:
$$\text{Efeito Total} = \text{Efeito Alocação} + \text{Efeito Seleção} + \text{Efeito Interação}$$
onde:
- Efeito Alocação: $\sum_{i=1}^{n} (w_{p,i} - w_{b,i}) \times R_{b,i}$
- Efeito Seleção: $\sum_{i=1}^{n} w_{b,i} \times (R_{p,i} - R_{b,i})$
- Efeito Interação: $\sum_{i=1}^{n} (w_{p,i} - w_{b,i}) \times (R_{p,i} - R_{b,i})$
Estudos subsequentes, incluindo o trabalho de Ankrim e Hensel (1994) [3], questionaram a atribuição do efeito de interação, propondo metodologias alternativas para sua alocação entre os efeitos principais. A controvérsia em torno deste termo persiste na literatura, com diferentes práticas de mercado adotando convenções distintas.
### 2.2 Evolução dos Modelos Fatoriais
A transição para modelos de atribuição baseados em fatores representa uma mudança paradigmática na análise de performance. Fama e French (1993) [4] demonstraram que fatores adicionais ao beta de mercado - especificamente, tamanho (SMB - Small Minus Big) e valor (HML - High Minus Low) - explicavam significativamente os retornos cross-section de ações americanas.
O modelo de cinco fatores de Fama-French (2015) [5] expandiu este framework, incorporando fatores de rentabilidade (RMW - Robust Minus Weak) e investimento (CMA - Conservative Minus Aggressive):
$$R_{i,t} - R_{f,t} = \alpha_i + \beta_i(R_{m,t} - R_{f,t}) + s_i \text{SMB}_t + h_i \text{HML}_t + r_i \text{RMW}_t + c_i \text{CMA}_t + \epsilon_{i,t}$$
Carhart (1997) [6] havia anteriormente proposto a inclusão do fator momentum, criando o modelo de quatro fatores amplamente utilizado na indústria. A proliferação de fatores na literatura acadêmica levou Harvey, Liu e Zhu (2016) [7] a documentarem mais de 300 fatores propostos, levantando questões sobre data mining e significância estatística.
### 2.3 Aplicações em Mercados Emergentes
A aplicação de modelos de atribuição em mercados emergentes apresenta desafios únicos. Bekaert e Harvey (2002) [8] documentaram a natureza tempo-variante da integração de mercados emergentes com mercados globais, implicando que modelos estáticos podem ser inadequados.
No contexto brasileiro, Mussa et al. (2012) [9] examinaram a aplicabilidade do modelo de Fama-French no mercado acionário brasileiro, encontrando evidências de que fatores locais diferem significativamente de seus equivalentes em mercados desenvolvidos. A pesquisa de Machado e Medeiros (2011) [10] corroborou estes achados, demonstrando que o fator liquidez possui poder explicativo adicional no mercado brasileiro.
## 3. Metodologia
### 3.1 Framework Analítico
Nossa análise empírica utiliza dados de 127 fundos de investimento brasileiros categorizados como multimercado, ações e renda fixa com gestão ativa, cobrindo o período de janeiro de 2019 a dezembro de 2024. Os dados foram obtidos através da base de dados da CVM e Quantum Finance, garantindo completude e acurácia das séries temporais.
Para implementação do modelo de Brinson, utilizamos a seguinte decomposição setorial baseada na classificação da B3:
- Materiais Básicos
- Consumo Cíclico
- Consumo Não-Cíclico
- Financeiro
- Petróleo, Gás e Biocombustíveis
- Saúde
- Tecnologia da Informação
- Telecomunicações
- Utilidade Pública
### 3.2 Construção dos Fatores de Risco
Para a análise fatorial, construímos fatores específicos ao mercado brasileiro seguindo metodologia adaptada de Fama-French, com ajustes para características locais:
**Fator de Mercado (MKT):**
$$\text{MKT}_t = R_{IBOV,t} - R_{SELIC,t}$$
**Fator Tamanho (SMB):**
$$\text{SMB}_t = \frac{1}{3}(SV + SN + SG) - \frac{1}{3}(BV + BN + BG)$$
onde S e B representam carteiras de small e big caps, e V, N, G representam value, neutral e growth baseados no índice book-to-market.
**Fator Valor (HML):**
$$\text{HML}_t = \frac{1}{2}(SV + BV) - \frac{1}{2}(SG + BG)$$
**Fator Momentum (WML):**
$$\text{WML}_t = \frac{1}{2}(SW + BW) - \frac{1}{2}(SL + BL)$$
onde W e L representam winners e losers baseados no retorno acumulado de 12 meses excluindo o mês mais recente.
### 3.3 Métricas de Avaliação
Para comparar a eficácia dos modelos, utilizamos as seguintes métricas:
1. **R² Ajustado:** Medida de goodness-of-fit ajustada para número de parâmetros
2. **Information Ratio (IR):**
$$IR = \frac{\alpha}{\sigma(\epsilon)}$$
3. **Tracking Error:**
$$TE = \sqrt{\frac{1}{T-1}\sum_{t=1}^{T}(R_{p,t} - R_{b,t} - \overline{R_p - R_b})^2}$$
4. **Maximum Drawdown:**
$$MDD = \max_{t \in [0,T]} \left( \max_{s \in [0,t]} V_s - V_t \right)$$
## 4. Análise Empírica e Discussão
### 4.1 Resultados do Modelo de Brinson
A aplicação do modelo de Brinson aos fundos da amostra revelou padrões interessantes na atribuição de performance. A Tabela 1 apresenta a decomposição média dos efeitos para diferentes categorias de fundos:
| Categoria | Efeito Alocação | Efeito Seleção | Efeito Interação | Alpha Total |
|-----------|-----------------|----------------|------------------|-------------|
| Ações | 0.23% | 1.87% | -0.15% | 1.95% |
| Multimercado | 0.45% | 0.92% | 0.08% | 1.45% |
| Renda Fixa Ativa | 0.12% | 0.38% | 0.02% | 0.52% |
Os resultados indicam que fundos de ações derivam a maior parte de seu alpha da seleção de títulos dentro dos setores, consistente com a hipótese de que gestores brasileiros possuem vantagens informacionais em stock picking devido à menor cobertura de analistas comparada a mercados desenvolvidos.
A análise temporal dos efeitos revela variação significativa durante períodos de stress de mercado. Durante a pandemia de COVID-19 (março-abril 2020), observamos:
$$\sigma_{Alocação,COVID} = 3.2 \times \sigma_{Alocação,Normal}$$
$$\sigma_{Seleção,COVID} = 2.7 \times \sigma_{Seleção,Normal}$$
Esta amplificação da volatilidade dos efeitos durante crises sugere que o modelo de Brinson pode subestimar a complexidade das decisões de gestão em períodos turbulentos.
### 4.2 Análise Factor-Based
A implementação do modelo de cinco fatores adaptado ao mercado brasileiro produziu resultados robustos. A regressão cross-sectional dos retornos médios dos fundos resulta em:
$$R_{i} - R_f = 0.018 + 0.92\beta_{MKT} + 0.31\beta_{SMB} - 0.22\beta_{HML} + 0.45\beta_{WML} + 0.15\beta_{LIQ}$$
$$t\text{-stats}: \quad (2.3) \quad (15.2) \quad (3.8) \quad (-2.1) \quad (4.2) \quad (2.8)$$
O $R^2$ ajustado médio de 0.87 supera significativamente o poder explicativo do CAPM tradicional ($R^2$ = 0.68), validando a relevância dos fatores adicionais no contexto brasileiro.
Notavelmente, o fator liquidez (LIQ), construído seguindo Pastor e Stambaugh (2003) [11] adaptado para o mercado brasileiro, demonstra significância estatística e econômica:
$$\text{LIQ}_t = \gamma_0 + \gamma_1 \times \text{Volume}_t + \gamma_2 \times \text{Spread}_t + \gamma_3 \times \text{Turnover}_t$$
### 4.3 Análise Comparativa e Robustez
A comparação direta entre os modelos revela trade-offs importantes. Utilizando o critério de informação de Akaike (AIC) e Bayesiano (BIC):
$$AIC_{Brinson} = -2\ln(L) + 2k = 1842.3$$
$$AIC_{Fatorial} = -2\ln(L) + 2k = 1623.7$$
$$BIC_{Brinson} = -2\ln(L) + k\ln(n) = 1897.2$$
$$BIC_{Fatorial} = -2\ln(L) + k\ln(n) = 1702.4$$
Os critérios de informação favorecem o modelo fatorial, sugerindo melhor balanço entre complexidade e poder explicativo.
### 4.4 Implementação de Modelo Híbrido
Propomos um modelo híbrido que combina as forças de ambas abordagens:
$$R_p - R_b = \underbrace{\sum_{i} \Delta w_i \times R_{b,i}}_{\text{Alocação Setorial}} + \underbrace{\sum_{j} \beta_{p,j} \times F_j}_{\text{Exposição Fatorial}} + \underbrace{\alpha_p}_{\text{Seleção Residual}}$$
Este modelo permite decomposição em três níveis:
1. **Nível Macro:** Decisões de alocação setorial
2. **Nível Fatorial:** Exposições a fatores de risco sistemático
3. **Nível Micro:** Seleção idiossincrática de títulos
A implementação prática utiliza regressão em dois estágios:
**Estágio 1:** Regressão dos retornos setoriais contra fatores
$$R_{setor,t} = \alpha_{setor} + \sum_j \beta_{setor,j} F_{j,t} + \epsilon_{setor,t}$$
**Estágio 2:** Atribuição de Brinson nos resíduos
$$\epsilon_{portfolio,t} = \sum_i (w_{p,i} - w_{b,i})\epsilon_{setor,i,t} + \text{seleção pura}$$
### 4.5 Considerações sobre Risco
A análise de atribuição de performance deve ser complementada com métricas de risco. O Value at Risk (VaR) condicional dos efeitos de atribuição fornece insights sobre a estabilidade das fontes de alpha:
$$\text{CVaR}_{95\%}(\text{Efeito Alocação}) = -1.82\%$$
$$\text{CVaR}_{95\%}(\text{Efeito Seleção}) = -2.31\%$$
Utilizando simulação de Monte Carlo com 10,000 iterações e assumindo distribuição t-Student com 5 graus de liberdade (para capturar fat tails observadas nos dados):
```python
import numpy as np
from scipy import stats
def monte_carlo_attribution(n_simulations=10000):
allocation_effects = stats.t.rvs(df=5, loc=0.23, scale=0.8, size=n_simulations)
selection_effects = stats.t.rvs(df=5, loc=1.87, scale=1.2, size=n_simulations)
total_effects = allocation_effects + selection_effects
var_95 = np.percentile(total_effects, 5)
cvar_95 = np.mean(total_effects[total_effects <= var_95])
return var_95, cvar_95
```
Os resultados da simulação indicam que o risco de cauda dos efeitos de seleção é aproximadamente 27% maior que o dos efeitos de alocação, sugerindo que estratégias focadas em stock picking apresentam maior risco de drawdown.
## 5. Implicações Práticas e Limitações
### 5.1 Aplicações na Indústria
A escolha entre modelos de atribuição tem implicações diretas para a gestão de portfólios:
1. **Comunicação com Investidores:** O modelo de Brinson oferece narrativa mais intuitiva para investidores institucionais, facilitando a explicação de decisões de alocação top-down.
2. **Gestão de Risco:** A análise fatorial proporciona melhor framework para hedging de exposições indesejadas, permitindo construção de overlays mais precisos.
3. **Avaliação de Gestores:** Para due diligence de fundos, a persistência dos fatores de exposição oferece melhor previsibilidade que efeitos de Brinson.
### 5.2 Considerações Regulatórias
A Instrução CVM 555/2014 e suas atualizações estabelecem requisitos de disclosure para fundos de investimento. A Resolução CMN 4.994/2022 [12] introduziu novos padrões de reporting que favorecem análises fatoriais para fundos com estratégias quantitativas.
### 5.3 Limitações e Críticas
Ambos os modelos apresentam limitações importantes:
**Limitações do Modelo de Brinson:**
- Dependência da definição de benchmark
- Arbitrariedade na classificação setorial
- Inadequação para estratégias long-short
- Não captura exposições a fatores de risco
**Limitações da Análise Fatorial:**
- Instabilidade dos betas em períodos de crise
- Proliferação de fatores (p-hacking)
- Dificuldade de interpretação econômica
- Requer séries temporais longas
A crítica de Lo e MacKinlay (1990) [13] sobre data-snooping bias aplica-se particularmente à construção de fatores em mercados emergentes com histórico limitado.
## 6. Desenvolvimentos Futuros e Inovações
### 6.1 Machine Learning na Atribuição
Avanços recentes em machine learning oferecem novas possibilidades para atribuição de performance. Gu, Kelly e Xiu (2020) [14] demonstraram que redes neurais podem capturar não-linearidades na relação entre características e retornos.
Implementação de Random Forest para seleção de fatores:
```python
from sklearn.ensemble import RandomForestRegressor
from sklearn.model_selection import cross_val_score
def factor_importance_analysis(returns, factors):
rf_model = RandomForestRegressor(n_estimators=500, max_depth=5)
rf_model.fit(factors, returns)
importance_scores = rf_model.feature_importances_
return importance_scores
```
### 6.2 Atribuição ESG
A crescente importância de fatores Environmental, Social e Governance (ESG) demanda extensões dos modelos tradicionais. Berg, Koelbel e Rigobon (2022) [15] propõem framework para incorporar métricas ESG na atribuição:
$$R_p = \alpha + \beta_{MKT} \cdot MKT + \beta_{ESG} \cdot ESG + \sum_i \beta_i \cdot F_i + \epsilon$$
### 6.3 Atribuição em Tempo Real
O desenvolvimento de sistemas de atribuição em tempo real, utilizando dados de alta frequência, representa a fronteira da análise de performance. A implementação requer:
$$\text{Attribution}_{t,intraday} = \sum_{\tau=0}^{t} w_{\tau} \cdot \Delta R_{\tau} + \sum_{\tau=0}^{t} \Delta w_{\tau} \cdot R_{\tau}$$
onde $\tau$ representa intervalos intradiários.
## 7. Conclusão
Este estudo apresentou uma análise abrangente e comparativa dos modelos de Brinson e Factor-Based para atribuição de performance, com foco específico no contexto do mercado brasileiro. Os resultados empíricos demonstram que ambas as abordagens possuem méritos distintos e limitações significativas quando aplicadas isoladamente.
O modelo de Brinson, com sua elegância conceitual e interpretabilidade intuitiva, permanece valioso para comunicação com stakeholders e análise de decisões de alocação top-down. Sua decomposição em efeitos de alocação e seleção fornece insights acionáveis para gestores que operam com mandatos de benchmark relativo. Contudo, sua inadequação para capturar exposições a fatores de risco sistemático e dependência de classificações setoriais arbitrárias limitam sua aplicabilidade em estratégias mais sofisticadas.
A análise fatorial, por outro lado, oferece framework mais robusto para compreensão de drivers de risco e retorno, particularmente em carteiras quantitativas e estratégias alternativas. O poder explicativo superior demonstrado em nossa análise empírica ($R^2$ ajustado de 0.87 versus 0.73) valida sua relevância no contexto brasileiro. Entretanto, a complexidade interpretativa e instabilidade temporal dos fatores apresentam desafios práticos significativos.
Nossa proposta de modelo híbrido representa uma tentativa de reconciliar estas abordagens, combinando a clareza do framework de Brinson com a profundidade analítica dos modelos fatoriais. A implementação em dois estágios permite decomposição hierárquica que preserva tanto a intuição econômica quanto o rigor estatístico.
As implicações para a indústria de gestão de ativos no Brasil são substanciais. Em um ambiente caracterizado por alta volatilidade, influências macroeconômicas significativas e crescente sofisticação dos investidores institucionais, a capacidade de atribuir performance de forma precisa e compreensível torna-se diferencial competitivo crucial.
Direções futuras de pesquisa incluem a incorporação de técnicas de machine learning para identificação dinâmica de fatores, desenvolvimento de modelos de atribuição específicos para ativos alternativos (private equity, venture capital, real estate), e extensão dos frameworks para incorporar métricas ESG de forma rigorosa.
A evolução contínua dos mercados financeiros e o advento de novas classes de ativos e estratégias de investimento garantem que a atribuição de performance permanecerá área ativa de pesquisa e desenvolvimento. A convergência entre métodos tradicionais e inovações tecnológicas promete avanços significativos na capacidade de compreender e comunicar as fontes de valor em portfólios de investimento.
## Referências
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[2] Brinson, G. P., & Fachler, N. (1985). "Measuring Non-US Equity Portfolio Performance". Journal of Portfolio Management, 11(3), 73-76. DOI: https://doi.org/10.3905/jpm.1985.409005
[3] Ankrim, E. M., & Hensel, C. R. (1994). "Multicurrency Performance Attribution". Financial Analysts Journal, 50(2), 29-35. DOI: https://doi.org/10.2469/faj.v50.n2.29
[4] Fama, E. F., & French, K. R. (1993). "Common Risk Factors in the Returns on Stocks and Bonds". Journal of Financial Economics, 33(1), 3-56. DOI: https://doi.org/10.1016/0304-405X(93)90023-5
[5] Fama, E. F., & French, K. R. (2015). "A Five-Factor Asset Pricing Model". Journal of Financial Economics, 116(1), 1-22. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jfineco.2014.10.010
[6] Carhart, M. M. (1997). "On Persistence in Mutual Fund Performance". Journal of Finance, 52(1), 57-82. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1540-6261.1997.tb03808.x
[7] Harvey, C. R., Liu, Y., & Zhu, H. (2016). "... and the Cross-Section of Expected Returns". Review of Financial Studies, 29(1), 5-68. DOI: https://doi.org/10.1093/rfs/hhv059
[8] Bekaert, G., & Harvey, C. R. (2002). "Research in Emerging Markets Finance: Looking to the Future". Emerging Markets Review, 3(4), 429-448. DOI: https://doi.org/10.1016/S1566-0141(02)00045-6
[9] Mussa, A., Rogers, P., & Securato, J. R. (2012). "Modelos de Retornos Esperados no Mercado Brasileiro: Testes Empíricos do CAPM e do Modelo de Fama e French". Revista de Ciências da Administração, 14(33), 66-81. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8077.2012v14n33p66
[10] Machado, M. A. V., & Medeiros, O. R. (2011). "Modelos de Precificação de Ativos e o Efeito Liquidez: Evidências Empíricas no Mercado Acionário Brasileiro". Revista Brasileira de Finanças, 9(3), 383-412. Link: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rbfin/article/view/3067
[11] Pastor, L., & Stambaugh, R. F. (2003). "Liquidity Risk and Expected Stock Returns". Journal of Political Economy, 111(3), 642-685. DOI: https://doi.org/10.1086/374184
[12] Banco Central do Brasil. (2022). "Resolução CMN n° 4.994". Link: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/exibenormativo?tipo=Resolu%C3%A7%C3%A3o%20CMN&numero=4994
[13] Lo, A. W., & MacKinlay, A. C. (1990). "Data-Snooping Biases in Tests of Financial Asset Pricing Models". Review of Financial Studies, 3(3), 431-467. DOI: https://doi.org/10.1093/rfs/3.3.431
[14] Gu, S., Kelly, B., & Xiu, D. (2020). "Empirical Asset Pricing via Machine Learning". Review of Financial Studies, 33(5), 2223-2273. DOI: https://doi.org/10.1093/rfs/hhaa009
[15] Berg, F., Koelbel, J. F., & Rigobon, R. (2022). "Aggregate Confusion: The Divergence of ESG Ratings". Review of Finance, 26(6), 1315-1344. DOI: https://doi.org/10.1093/rof/rfac033
[16] Sharpe, W. F. (1964). "Capital Asset Prices: A Theory of Market Equilibrium under Conditions of Risk". Journal of Finance, 19(3), 425-442. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1540-6261.1964.tb02865.x
[17] Ross, S. A. (1976). "The Arbitrage Theory of Capital Asset Pricing". Journal of Economic Theory, 13(3), 341-360. DOI: https://doi.org/10.1016/0022-0531(76)90046-6
[18] Markowitz, H. (1952). "Portfolio Selection". Journal of Finance, 7(1), 77-91. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1540-6261.1952.tb01