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Categorias Derivadas e t-Estruturas: Fundamentos e Aplicações em Álgebra Homológica
Autor: Saulo Dutra
Artigo: #545
# Categorias Derivadas e t-Estruturas em Álgebra Homológica: Uma Análise Sistemática das Construções Fundamentais e Aplicações Contemporâneas
## Resumo
Este artigo apresenta uma análise rigorosa e abrangente das categorias derivadas e t-estruturas no contexto da álgebra homológica moderna. Investigamos as construções fundamentais das categorias derivadas, explorando sua axiomatização através da teoria de categorias trianguladas e examinando o papel crucial das t-estruturas na organização e compreensão dessas categorias. Desenvolvemos uma exposição sistemática partindo dos fundamentos categóricos até as aplicações mais sofisticadas em geometria algébrica e teoria de representações. Particular atenção é dedicada à construção de Verdier, ao formalismo das categorias modelo de Quillen, e às recentes desenvolvimentos na teoria de categorias derivadas não-comutativas. Demonstramos como as t-estruturas fornecem uma ponte essencial entre a álgebra homológica clássica e as modernas técnicas derivadas, estabelecendo conexões profundas com a teoria de feixes perversos, a correspondência de Riemann-Hilbert e os espaços de moduli de objetos estáveis. Nossa análise incorpora resultados recentes sobre categorias derivadas enhançadas e sua relação com a geometria não-comutativa, oferecendo uma perspectiva unificada sobre desenvolvimentos aparentemente díspares na matemática contemporânea.
**Palavras-chave:** categorias derivadas, t-estruturas, álgebra homológica, categorias trianguladas, teoria de representações, geometria algébrica
## 1. Introdução
A teoria das categorias derivadas, introduzida por Grothendieck e Verdier na década de 1960, revolucionou fundamentalmente nossa compreensão da álgebra homológica e suas aplicações em geometria algébrica. Esta construção matemática sofisticada emergiu da necessidade de trabalhar com resoluções de complexos de maneira functorial, superando as limitações inerentes às categorias de homotopia tradicionais.
O conceito central reside na localização formal de uma categoria de complexos com respeito aos quasi-isomorfismos, produzindo uma categoria triangulada que codifica toda a informação homológica relevante. Formalmente, dada uma categoria abeliana $\mathcal{A}$, a categoria derivada $D(\mathcal{A})$ é obtida através da localização:
$$D(\mathcal{A}) = K(\mathcal{A})[S^{-1}]$$
onde $K(\mathcal{A})$ denota a categoria de homotopia de complexos e $S$ é a classe dos quasi-isomorfismos.
As t-estruturas, introduzidas por Beilinson, Bernstein e Deligne [1], fornecem uma maneira sistemática de recuperar categorias abelianas dentro de categorias trianguladas, estabelecendo uma ponte crucial entre a álgebra homológica clássica e o formalismo derivado moderno. Uma t-estrutura em uma categoria triangulada $\mathcal{D}$ consiste em um par de subcategorias plenas $(D^{\leq 0}, D^{\geq 0})$ satisfazendo axiomas específicos que garantem a existência de um functor de cohomologia natural.
A relevância contemporânea dessas estruturas transcende seu contexto original. Na geometria algébrica moderna, as categorias derivadas de feixes coerentes $D^b_{coh}(X)$ em variedades algébricas $X$ tornaram-se objetos fundamentais de estudo, codificando informações geométricas profundas. Kontsevich [2] demonstrou que equivalências entre categorias derivadas podem revelar simetrias ocultas em geometria, inaugurando o programa de simetria homológica de espelho.
## 2. Revisão da Literatura
### 2.1 Desenvolvimento Histórico
O desenvolvimento das categorias derivadas pode ser traçado através de várias fases distintas. A primeira fase, dominada pelos trabalhos seminais de Grothendieck e Verdier nos anos 1960, estabeleceu os fundamentos teóricos. Verdier [3] formalizou a noção de categoria triangulada, introduzindo os axiomas (TR1)-(TR4) que caracterizam essas estruturas:
**Axioma TR1:** Existe um functor de translação $T: \mathcal{D} \rightarrow \mathcal{D}$ que é uma auto-equivalência.
**Axioma TR2:** Existe uma classe de sequências distinguidas (triângulos) da forma:
$$X \xrightarrow{u} Y \xrightarrow{v} Z \xrightarrow{w} T(X)$$
**Axioma TR3:** Os triângulos distinguidos satisfazem propriedades de rotação e completamento.
**Axioma TR4:** O axioma do octaedro garante a compatibilidade entre diferentes triângulos distinguidos.
A segunda fase, iniciada nos anos 1980, viu a aplicação sistemática dessas ideias em geometria algébrica. Beilinson [4] demonstrou que a categoria derivada de feixes coerentes em $\mathbb{P}^n$ admite uma decomposição semi-ortogonal excepcional:
$$D^b_{coh}(\mathbb{P}^n) = \langle \mathcal{O}, \mathcal{O}(1), \ldots, \mathcal{O}(n) \rangle$$
Este resultado fundamental estabeleceu um paradigma para o estudo de categorias derivadas de variedades algébricas.
### 2.2 t-Estruturas e Suas Aplicações
A teoria das t-estruturas, desenvolvida por Beilinson, Bernstein e Deligne [1], emergiu do estudo de feixes perversos e da correspondência de Riemann-Hilbert. Uma t-estrutura em uma categoria triangulada $\mathcal{D}$ é definida por um par $(D^{\leq 0}, D^{\geq 0})$ de subcategorias plenas satisfazendo:
1. $D^{\leq 0}[1] \subseteq D^{\leq 0}$ e $D^{\geq 0}[-1] \subseteq D^{\geq 0}$
2. $\text{Hom}_{\mathcal{D}}(X, Y) = 0$ para $X \in D^{\leq 0}$ e $Y \in D^{\geq 1}$
3. Para todo $X \in \mathcal{D}$, existe um triângulo distinguido:
$$\tau^{\leq 0}X \rightarrow X \rightarrow \tau^{\geq 1}X \rightarrow \tau^{\leq 0}X[1]$$
com $\tau^{\leq 0}X \in D^{\leq 0}$ e $\tau^{\geq 1}X \in D^{\geq 1}$
O coração da t-estrutura, definido como $\mathcal{C} = D^{\leq 0} \cap D^{\geq 0}$, é uma categoria abeliana, fornecendo uma ponte entre o mundo triangulado e o abeliano.
### 2.3 Desenvolvimentos Recentes
Trabalhos recentes de Bondal e Van den Bergh [5] exploraram categorias derivadas não-comutativas, estendendo o formalismo clássico para contextos mais gerais. Orlov [6] estabeleceu conexões profundas entre categorias derivadas e geometria birracional, demonstrando que equivalências derivadas preservam importantes invariantes geométricos.
Bridgeland [7] introduziu as condições de estabilidade em categorias trianguladas, generalizando a noção clássica de estabilidade de Mumford para feixes. Uma condição de estabilidade consiste em um par $\sigma = (Z, \mathcal{P})$ onde:
$$Z: K(\mathcal{D}) \rightarrow \mathbb{C}$$
é um homomorfismo de grupos (função central) e $\mathcal{P}(\phi)$ para $\phi \in \mathbb{R}$ forma uma família de subcategorias abelianas satisfazendo axiomas específicos de compatibilidade.
## 3. Metodologia e Construções Fundamentais
### 3.1 Construção de Categorias Derivadas
A construção rigorosa da categoria derivada procede através de várias etapas fundamentais. Iniciamos com uma categoria abeliana $\mathcal{A}$ e consideramos a categoria $C(\mathcal{A})$ de complexos de objetos em $\mathcal{A}$.
**Definição 3.1.** Um complexo em $\mathcal{A}$ é uma sequência de objetos e morfismos:
$$\cdots \rightarrow X^{n-1} \xrightarrow{d^{n-1}} X^n \xrightarrow{d^n} X^{n+1} \rightarrow \cdots$$
satisfazendo $d^{n+1} \circ d^n = 0$ para todo $n \in \mathbb{Z}$.
A categoria de homotopia $K(\mathcal{A})$ é obtida identificando morfismos homotópicos. Dois morfismos de complexos $f, g: X^\bullet \rightarrow Y^\bullet$ são homotópicos se existe uma família de morfismos $h^n: X^n \rightarrow Y^{n-1}$ tal que:
$$f^n - g^n = d_Y^{n-1} \circ h^n + h^{n+1} \circ d_X^n$$
**Teorema 3.2 (Verdier).** A categoria de homotopia $K(\mathcal{A})$ admite uma estrutura de categoria triangulada natural, onde os triângulos distinguidos são dados por sequências:
$$X^\bullet \xrightarrow{f} Y^\bullet \rightarrow \text{Cone}(f) \rightarrow X^\bullet[1]$$
A construção do cone de um morfismo $f: X^\bullet \rightarrow Y^\bullet$ é dada explicitamente por:
$$\text{Cone}(f)^n = Y^n \oplus X^{n+1}$$
com diferencial:
$$d_{\text{Cone}(f)}^n = \begin{pmatrix} d_Y^n & f^{n+1} \\ 0 & -d_X^{n+1} \end{pmatrix}$$
### 3.2 Localização e Propriedades Universais
A categoria derivada $D(\mathcal{A})$ é obtida através da localização de Verdier de $K(\mathcal{A})$ com respeito à classe $S$ dos quasi-isomorfismos.
**Proposição 3.3.** A localização $D(\mathcal{A}) = K(\mathcal{A})[S^{-1}]$ satisfaz a seguinte propriedade universal: para qualquer functor $F: K(\mathcal{A}) \rightarrow \mathcal{D}$ que envia quasi-isomorfismos em isomorfismos, existe um único functor $\bar{F}: D(\mathcal{A}) \rightarrow \mathcal{D}$ tal que o diagrama:
$$\begin{CD}
K(\mathcal{A}) @>F>> \mathcal{D} \\
@VVV @| \\
D(\mathcal{A}) @>\bar{F}>> \mathcal{D}
\end{CD}$$
comuta.
### 3.3 Functores Derivados
Os functores derivados fornecem a ponte entre functores clássicos em categorias abelianas e suas extensões às categorias derivadas. Dado um functor aditivo $F: \mathcal{A} \rightarrow \mathcal{B}$ entre categorias abelianas, construímos seu functor derivado à direita $RF: D^+(\mathcal{A}) \rightarrow D^+(\mathcal{B})$ através do processo de resolução.
**Teorema 3.4.** Se $\mathcal{A}$ possui suficientes injetivos, então para todo complexo $X^\bullet \in D^+(\mathcal{A})$, existe um quasi-isomorfismo $X^\bullet \rightarrow I^\bullet$ onde $I^\bullet$ é um complexo de objetos injetivos. O functor derivado à direita é definido por:
$$RF(X^\bullet) = F(I^\bullet)$$
A construção dual para functores derivados à esquerda utiliza resoluções projetivas quando disponíveis.
## 4. Análise e Discussão
### 4.1 t-Estruturas e o Formalismo de Truncamento
As t-estruturas fornecem uma maneira sistemática de decompor objetos em categorias trianguladas. A existência de functores de truncamento $\tau^{\leq n}$ e $\tau^{\geq n}$ permite uma análise refinada da estrutura cohomológica.
**Teorema 4.1 (Beilinson-Bernstein-Deligne).** Seja $(\mathcal{D}^{\leq 0}, \mathcal{D}^{\geq 0})$ uma t-estrutura em uma categoria triangulada $\mathcal{D}$. Então:
1. Os functores de truncamento $\tau^{\leq 0}: \mathcal{D} \rightarrow \mathcal{D}^{\leq 0}$ e $\tau^{\geq 0}: \mathcal{D} \rightarrow \mathcal{D}^{\geq 0}$ são adjuntos.
2. O coração $\mathcal{C} = \mathcal{D}^{\leq 0} \cap \mathcal{D}^{\geq 0}$ é uma categoria abeliana.
3. O functor de cohomologia $H^0 = \tau^{\geq 0} \tau^{\leq 0}: \mathcal{D} \rightarrow \mathcal{C}$ é cohomológico.
A estrutura padrão em $D(\mathcal{A})$ é dada por:
$$D^{\leq 0} = \{X^\bullet \in D(\mathcal{A}) : H^i(X^\bullet) = 0 \text{ para } i > 0\}$$
$$D^{\geq 0} = \{X^\bullet \in D(\mathcal{A}) : H^i(X^\bullet) = 0 \text{ para } i < 0\}$$
### 4.2 Aplicações em Geometria Algébrica
Na geometria algébrica moderna, as categorias derivadas de feixes coerentes tornaram-se ferramentas indispensáveis. Para uma variedade algébrica suave $X$, a categoria $D^b_{coh}(X)$ codifica informações geométricas profundas.
**Teorema 4.2 (Bondal-Orlov [8]).** Sejam $X$ e $Y$ variedades projetivas suaves com fibrado canônico amplo ou anti-amplo. Se existe uma equivalência $D^b_{coh}(X) \cong D^b_{coh}(Y)$, então $X \cong Y$.
Este resultado demonstra que, sob certas condições, a categoria derivada determina completamente a geometria da variedade.
### 4.3 Decomposições Semi-Ortogonais
Uma decomposição semi-ortogonal de uma categoria triangulada $\mathcal{D}$ é uma sequência de subcategorias plenas trianguladas:
$$\mathcal{D} = \langle \mathcal{D}_1, \mathcal{D}_2, \ldots, \mathcal{D}_n \rangle$$
satisfazendo condições específicas de ortogonalidade. Kuznetsov [9] desenvolveu uma teoria sistemática dessas decomposições, com aplicações profundas em geometria birracional.
**Exemplo 4.3.** Para uma explosão $\pi: \tilde{X} \rightarrow X$ de uma variedade suave $X$ ao longo de uma subvariedade suave $Y$ de codimensão $c$, temos:
$$D^b_{coh}(\tilde{X}) = \langle D^b_{coh}(Y), D^b_{coh}(Y) \otimes \mathcal{O}_E(1), \ldots, D^b_{coh}(Y) \otimes \mathcal{O}_E(c-2), D^b_{coh}(X) \rangle$$
onde $E$ é o divisor excepcional.
### 4.4 Condições de Estabilidade e Espaços de Moduli
As condições de estabilidade de Bridgeland [7] fornecem uma estrutura rica para o estudo de espaços de moduli de objetos em categorias trianguladas. O espaço de condições de estabilidade $\text{Stab}(\mathcal{D})$ em uma categoria triangulada $\mathcal{D}$ possui uma topologia natural que o torna uma variedade complexa.
**Teorema 4.4 (Bridgeland).** Para uma superfície K3 $S$, o espaço $\text{Stab}(D^b_{coh}(S))$ é um recobrimento do espaço de períodos complexificado.
Esta conexão profunda entre estabilidade categórica e geometria clássica ilustra o poder unificador das categorias derivadas.
### 4.5 Categorias Derivadas Não-Comutativas
O conceito de categoria derivada não-comutativa, introduzido por Bondal e Kapranov [10], estende o formalismo clássico para contextos mais gerais. Uma categoria triangulada pequena $\mathcal{D}$ é considerada uma "categoria derivada não-comutativa" se satisfaz certas condições de finitude e regularidade.
**Definição 4.5.** Uma categoria triangulada $\mathcal{D}$ é suave se o functor diagonal:
$$\Delta: \mathcal{D} \rightarrow \mathcal{D} \otimes \mathcal{D}^{op}$$
possui um adjunto à direita.
Kontsevich [2] propôs que categorias derivadas não-comutativas deveriam ser consideradas como "espaços não-comutativos", inaugurando um novo paradigma em geometria algébrica.
## 5. Desenvolvimentos Recentes e Aplicações
### 5.1 Teoria de Representações e Categorias Derivadas
A aplicação de métodos derivados em teoria de representações revolucionou nossa compreensão de álgebras de dimensão finita. Rickard [11] demonstrou que equivalências derivadas preservam importantes invariantes homológicos.
**Teorema 5.1 (Rickard).** Duas álgebras de dimensão finita $A$ e $B$ sobre um corpo $k$ são derivadamente equivalentes se e somente se existe um complexo basculante $T^\bullet \in D^b(A\text{-mod})$ tal que:
$$D^b(B\text{-mod}) \cong \text{thick}(T^\bullet)$$
onde $\text{thick}(T^\bullet)$ denota a subcategoria triangulada espessa gerada por $T^\bullet$.
### 5.2 Correspondência de McKay Derivada
A correspondência de McKay derivada, desenvolvida por Bridgeland, King e Reid [12], estabelece uma equivalência entre a categoria derivada equivariante de um grupo finito agindo em $\mathbb{C}^n$ e a categoria derivada de feixes coerentes em sua resolução crepante.
**Teorema 5.2.** Seja $G \subset SL_n(\mathbb{C})$ um grupo finito e $Y \rightarrow \mathbb{C}^n/G$ uma resolução crepante. Então existe uma equivalência:
$$D^b_{coh}(Y) \cong D^b_G(\mathbb{C}^n)$$
Esta correspondência tem implicações profundas para a geometria de singularidades quociente.
### 5.3 Categorias Derivadas e Simetria de Espelho
O programa de simetria homológica de espelho de Kontsevich [2] postula que a simetria de espelho entre variedades de Calabi-Yau pode ser entendida como uma equivalência entre categorias trianguladas:
$$D^b_{coh}(X) \cong D^b_{Fuk}(X^{\vee})$$
onde $D^b_{Fuk}(X^{\vee})$ é a categoria derivada de Fukaya do espelho $X^{\vee}$.
Seidel [13] e outros desenvolveram técnicas sofisticadas para construir essas equivalências em casos específicos, utilizando métodos de geometria simplética e álgebra homológica.
### 5.4 DG-Categorias e Aprimoramentos
As categorias diferenciais graduadas (DG-categorias) fornecem aprimoramentos naturais das categorias trianguladas, resolvendo muitas das patologias inerentes ao formalismo triangulado. Toën [14] desenvolveu uma teoria sistemática de DG-categorias, estabelecendo conexões com a teoria de homotopia.
**Definição 5.3.** Uma DG-categoria $\mathcal{C}$ consiste de:
1. Uma classe de objetos $\text{Ob}(\mathcal{C})$
2. Para cada par de objetos $X, Y$, um complexo de morfismos $\text{Hom}_{\mathcal{C}}(X, Y)$
3. Composição associativa compatível com a estrutura diferencial
A categoria de homotopia $H^0(\mathcal{C})$ de uma DG-categoria possui uma estrutura triangulada natural.
## 6. Limitações e Direções Futuras
### 6.1 Limitações Atuais
Apesar dos avanços significativos, várias limitações persistem na teoria atual:
1. **Problema da Não-Functorialidade:** A construção de categorias derivadas via localização não é functorial em geral, criando dificuldades técnicas significativas.
2. **Ausência de Limites:** Categorias trianguladas geralmente não possuem limites e colimites, limitando construções categóricas naturais.
3. **Complexidade Computacional:** O cálculo explícito de grupos de morfismos em categorias derivadas permanece extremamente difícil em casos gerais.
### 6.2 Direções Futuras de Pesquisa
Várias direções promissoras emergem na pesquisa contemporânea:
**1. Categorias Derivadas Superiores:** O desenvolvimento de categorias $(\infty, 1)$ por Lurie [15] oferece um framework mais robusto para álgebra homológica, resolvendo muitas limitações das categorias trianguladas clássicas.
**2. Aplicações em Física Matemática:** As categorias derivadas aparecem naturalmente em teoria de cordas topológicas e teorias de campo quântico topológicas, sugerindo conexões profundas ainda não completamente exploradas.
**3. Geometria Aritmética:** A aplicação de métodos derivados em geometria aritmética, particularmente no estudo de motivos e cohomologia étale, representa uma fronteira ativa de pesquisa.
**4. Machine Learning Categórico:** Recentes desenvolvimentos sugerem que estruturas categóricas, incluindo categorias derivadas, podem fornecer frameworks úteis para entender redes neurais profundas [16].
## 7. Conclusão
Este artigo apresentou uma análise abrangente das categorias derivadas e t-estruturas em álgebra homológica, explorando desde os fundamentos teóricos até as aplicações mais sofisticadas em matemática contemporânea. Demonstramos como essas estruturas fornecem um framework unificador para diversos fenômenos matemáticos, desde a geometria algébrica clássica até desenvolvimentos recentes em física matemática e geometria não-comutativa.
As categorias derivadas revolucionaram nossa compreensão da álgebra homológica, fornecendo ferramentas poderosas para o estudo de questões geométricas e algébricas profundas. As t-estruturas, por sua vez, estabelecem pontes cruciais entre o mundo triangulado abstrato e as categorias abelianas concretas, permitindo a aplicação de técnicas homológicas sofisticadas em contextos diversos.
Os desenvolvimentos recentes, particularmente na teoria de condições de estabilidade e categorias derivadas não-comutativas, abrem novas perspectivas para a pesquisa futura. A conexão com a física matemática, através da simetria de espelho e teorias de campo quântico topológicas, sugere que as categorias derivadas continuarão a desempenhar um papel central no desenvolvimento da matemática do século XXI.
As limitações atuais da teoria, especialmente questões de functorialidade e a ausência de certos limites categóricos, motivam o desenvolvimento de frameworks mais sofisticados, como as categorias superiores de Lurie. Esses avanços prometem resolver muitas das dificuldades técnicas atuais, abrindo caminho para aplicações ainda mais amplas.
A interseção entre categorias derivadas e outras áreas da matemática continua a revelar conexões surpreendentes e profundas. O estudo sistemático dessas estruturas não apenas ilumina questões clássicas sob nova perspectiva, mas também sugere direções inteiramente novas para a pesquisa matemática.
Em conclusão, as categorias derivadas e t-estruturas representam um dos desenvolvimentos mais significativos da matemática moderna, fornecendo linguagem e ferramentas essenciais para a compreensão de fenômenos complexos em álgebra, geometria e além. Sua importância continuará a crescer à medida que novas aplicações e conexões são descobertas, consolidando seu papel como estruturas fundamentais na matemática do século XXI.
## Referências
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